sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

HISTÓRIAS ENCONTRADAS NO FUNDO DO BAÚ

A sala está abafada. Olho a varanda e vejo-o a olhar dentro de mim. Fica ali especado, atento a cada linha do meu rosto e corpo.

Vejo que continuas, que persistes. Tal como outrora não desvias o olhar.

É harmonioso, bonito o seu andar, lânguido, exibe vaidade.

Estende-me a cara, dá-me um beijo e o silêncio na saída.

É irresponsabilidade ou demência? Não sei que fazer para deixar de te temer e de tremer, e no entanto nem por um momento trocava de lugar contigo.

Não abandono este meu propósito de voltar a sorrir contigo, de voltar a dar-te a mão enquanto me estendes a tua: “dá….”.

Vou sem medo, não por cio, mas por fé.

Fazes-me falta aqui, ó tu por quem escrevo.

Vejo-te ao longe e corro para não te perder de vista, somente para sorrir e te ver brilhar antes que o tempo se extinga. E depois ouvir a voz antes autêntica e agora apenas sonhada.

Bastou-me imaginar-te para um dia a carvão te ter desenhado. Olhaste-o, e com palavras elegantemente esguias fizeste deslizar um dissimulado sorriso no rosto.

Mas serei eu escritora?!...

E se eu parasse de escrever? E se eu ficasse sem computador? Desaparecerias daqui? Assim talvez apenas permanecesses na minha memória, mas sem glória.

Mas não, não é possível. Estava a esquecer-me da existência da ALMA. Só ela tem consciência de que é ela a real consciência.

Que fazer então com estas imagens que me desencaminham?

O que escrevo sobre ti, em espasmos de revolta, tem a violência do desejo e a quietude da Alma. E fico aqui parada sem cessar de te admirar… de todas as árvores caem folhas porque afinal, esta noite, nunca aqui estiveste.

O desejo não cessa nem adormece, nesta casa tão perto da tua, separadas apenas pelo vento, o silêncio ocupa todas as paredes, um silêncio semi-senil que não pára de murmurar segundo a segundo.

Estarão as nossas vidas cruzando-se noutro plano?

Seja lá o que for, eu tenho que te ver, talvez não por amor, mas para te ver, para te ter.

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